sábado, 20 de março de 2010

do primeiro natal

Dia cansativo!
Trabalhei mais do que devia, mal almocei e quando chego em casa tem minhas cuecas pra lavar (sim, eu lavo minhas cuecas). Mamãe sempre diz que se colocar na máquina de lavar estraga. Mas isso se deve ao fato de termos ido dormir tarde ontem montando a árvore de Natal. Foi até legal, só quebrei uma bola, mas quase que a gente tem de ir pro hospital: o Joaquim pegou aqueles cordões cheios de doces de mentira e danou-se pro quarto. Ficamos montando a árvore e pensamos que tava tudo bem, que ele tinha ido pro quarto dormir, mas quando meu bem chega lá tá Joaquim comendo os doces de mentira e quase se engasgando com uma bengala falsa! Em uma manobra quase de ninjutsu ela conseguiu erguer o menino, tirar a bengalinha dele e o levar em dois segundos pra tomar água. Adoro mulheres com mega instinto maternal! Depois disso, fui ler o restinho do jornal do dia que faltava enquando ela o ajeitava e o punha pra dormir.
Baaah, tudo bem que meu jeito romântico já ficou de lado há muito tempo, mas eu acho tão bonitinho ela cuidando dele. Parece aquelas velhinhas que tem aquele montão de plantas e cuida de cada uma como se fosse um pedaço de si, sabem? E o jeito que ela amarra o cabelo ainda me fascina. Droga, porque gostar tanto de coques?
Bem, agora vamos fazer jus ao título dessa postagem, não é?
Ainda era o primeiro ano da gente em Gramado. Tava tudo ótimo! Eu havia sido chamado cerca de uma semana após o resultado do concurso e ela tentou emprego em algumas empresas. Depois de deixar currículo até em padaria (conseguir um emprego tinha se tornado uma questão de honra!) ela finalmente foi chamada para seu primeiro emprego (e como nutricionista, não como padeira). O Hospital Arcanjo São Miguel, que atende a população de Gramado e Canela, se interessou pelo currículo dela e a contratou. Deus sabe a felicidade que ela ficou. Foi tão bom, tão bom, mas tão bom, que fomos dormir 2 horas mais tarde do que estávamos acostumados (já descontando a outra hora que tinha se tornado rotina três vezes na semana). Depois disso, as coisas realmente melhoraram por aqui. Ela pôde, então, comprar as coisas caras de que tanto gostava, e eu agora tinha um dinheirinho sobrando todo fim do mês pra guardar na poupança.
A gente até tava planejando visitar nossos pais no Natal desse ano, mas nem deu. Decidimos com o dinheiro dar entrada na compra de um apartamento, já que iríamos passar carnaval com eles.
Mas bem, nesse primeiro dia de Natal eu acordei com o pé esquerdo. Podia jurar que ouvi alguma coisa caindo e quebrando na cozinha, mas nem liguei, ainda estava no estado sonho/realidade e não era nem 7 horas da manhã. Meu bem trabalhava mais cedo, então acordava mais cedo. Meu trabalho era de 6 horas diárias, distribuídas como eu quisesse, entre as 8 e 18. Optei por trabalhar das 10 as 16, ficava num horário melhor. Já ela trabalha 8 horas por dia, mesmo não tendo o que fazer. "Passei o dia lendo revista hoje. Sabia que a Capricho é até legalzinha?" disse uma vez. Normalmente eu fico de mau humor quando acordo, nesse dia eu acordei com um puta mau humor e, pra completar, tinha a louça suja de ontem pra lavar e a do café da manhã, que ela sempre deixava pra que eu lavasse (ESSA é a parte ruim do meu horário de trabalho). Terminei de lavar a louça e fui tomar banho. Quando abro o chuveiro, sem água. Sorte minha, tava tão aéreo que percebi que havia tentado tomar banho com os óculos no rosto, que tenho de usar pra tudo, até pra lavar louça. Pra completar, a caixa d'água tava quebrada, então quando faltava água, cada um que se virasse. Tudo bem, normal faltar água e tomar banho naquele frio com água da caixa era quase pedir pra morrer de hipotermia. Minha única opção foi voltar aos velhos tempos de ensino fundamental: se não quer tomar banho, molhe a cabeça e ponha bastante perfume, tudo resolvido! Fui até a geladeira rindo da minha própria infantilidade, ignorei o bilhete que ela tinha deixado - que normalmente era um "bom dia" ou "bom trabalho" seguido por um apelido carinhoso - peguei a jarra verde, onde colocávamos água gelada, fui até a pia da cozinha (como fazia quando criança), me enverguei de modo que não molhasse a roupa de dormir e despejei com tudo! Primeiro eu pensei "não acredito que estou fazendo isso de novo", mas quando vi o líquido amarelo e preguento escorrendo pelos meus cabelos e enfestando a cozinha com cheiro de manga, foi o estopim pra um ataque de nervos!
10 minutos depois estava eu lendo o bilhete que ela tinha deixado:

"a jarra do suco quebrou e pus o suco na jarra de água

p.s.: liguei pro mercadinho e pedi água mineral, o filtro está seco.

bom dia, te amo!"

Assim que termino de ler, toca a campainha. O Zé era cara legal, super gente fina, comprávamos água a ele desde que havíamos nos mudado, só que tinham colocado um pessoal novo pra fazer as entregas. Abri a porta com meu novo perfume Ekos Manga e com um sorriso elegante e forçado.

- Bom dia! disse o jovem, que devia ter seus 20 anos.
- Bom dia, como vai? Pode entrar. A água fica ali em cima da mesa mesmo.

Podia jurar que vi uma cara de riso quando ele saiu, tentando ser sério e esboçando um "obrigado", e o pior é que eu não tiro a razão dele.

Liguei pro trabalho e disse que estava doente, coisa que com certeza era melhor do que ir trabalhar sem tomar banho, ou melhor, tendo tomado um banho de suco de manga. Como era dia 24 de Dezembro e eu só teria de trabalhar meio expediente, nem houve muito problema. A água veio chegar lá pro meio dia mas, pra minha surpresa, meu bem chegou antes disso! Dissera que o pessoal de lá havia liberado-a mais cedo.
Ela passou o resto da semana tirando onda com a minha cara por conta do suco, mas foi até divertido! O bom disso tudo é que eu posso dar um tiro no pé que ela me mostra o lado bom. Pena que a única coisa boa do suco foi a recompensa na noite de natal, mas isso não vem ao caso, talvez algum menor esteja lendo essas palavras!
Compramos um peru pra fazer nossa ceia e pedimos pizza! Assistimos um bom filme de Natal e formos dormir. Passamos horas lembrando de como tínhamos nos conhecido, como tinha sido meu primeiro Natal na casa dela e sobre o presente horrível que ela tinha me dado. Tudo bem que ela mesma tinha feito e tinha um valor sentimental enorme, mas que era feio, era. Mas isso é tema pra outra postagem, estou morrendo de sono e amanhã terei de trabalhar às 8 horas, estamos no meio de uma obra!

Um comentário:

Thalita Brice disse...

tão belo! e que saudades estava desses textos.

p.s: you know... :*